O brilho invisível do Universo
2018 outubro 02Galáxias no Campo Ultra profundo do Hubble (HUDF). Crédito: ESO/ Lutz Wisotzki et al.O investigador do IA Jarle Brinchmann Num artigo
1, publicado online hoje na revista
Nature, uma equipa internacional
2, que inclui o investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (
IA3)
Jarle Brinchmann, descreve o rastreio espectroscópio que realizou à região do céu conhecida como Campo Ultra Profundo do Hubble (
HUDF), onde foi detetada uma abundância inesperada de emissão do tipo Lyman-alfa
4, que preenche todo o campo de visão, levando a equipa a extrapolar que o céu estará preenchido com um brilho invisível de emissão Lyman-alfa, emitida no início do Universo.
Jarle Brinchmann (IA e
Universidade do Porto) comenta: "
Quando olhamos para as imagens mais profundas do Universo, pensamos nas galáxias como pequenas ilhas de luz num imenso mar de escuridão. Estas observações revelaram que o Universo não é completamente escuro – há uma emissão de gás ionizado, em todas as direções para onde olhamos, que só vemos se tivermos instrumentos sensíveis o suficiente. Este é o espantoso e inesperado resultado das observações ultra-profundas realizadas com o espectrógrafo MUSE."
Esta emissão, proveniente da infância do Universo, numa altura em que as galáxias eram muito menores que as atuais, é devida aos enormes reservatórios cósmicos de hidrogénio atómico que envolvem as galáxias distantes no Universo primitivo. Philipp Richter (
Universidade de Potsdam), um dos membros da equipa, comenta: "
Com as observações do MUSE temos uma visão completamente nova dos ‘casulos’ de gás difuso em redor das galáxias no Universo primordial".
O instrumento MUSE, instalado no
VLT (
ESO) é um espectrógafo que usa unidades de campo integral para espectroscopia 3D
5, para obter o espectro total de cada pixel do céu. Ao dispersar a luz nas suas componentes é possível "
aprender mais sobre estas galáxias, tais como o seu conteúdo químico e movimentos internos — não para cada galáxia de sua vez, mas para todas as galáxias ao mesmo tempo!", segundo explica Brinchmann, que até recentemente foi professor na
Universidade de Leiden, nos Países Baixos.
"
A próxima vez que olharem para uma noite sem luar e virem as estrelas, tentem imaginar o brilho invisível do hidrogénio, o primeiro "tijolo" da formação do Universo, a iluminar a totalidade do céu", comenta Themiya Nanayakkara (U. Leiden), outro membro da equipa.
Notas
- O artigo "Nearly 100% of the sky is covered by Lyman-α emission around high redshift galaxies" foi publicado online hoje na revista Nature (DOI: 10.1038/s41586-018-0564-6).
- A equipa é composta por Lutz Wisotzki (Leibniz-Institut für Astrophysik Potsdam), Roland Bacon (CRAL - CNRS, Université Claude Bernard Lyon 1, ENS de Lyon, Université de Lyon), Jarle Brinchmann (Universiteit Leiden; Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, Universidade do Porto), Sebastiano Cantalupo (ETH Zürich), Philipp Richter (Universität Potsdam), Joop Schaye (Universiteit Leiden), Kasper B. Schmidt (Leibniz-Institut für Astrophysik Potsdam), Tanya Urrutia (Leibniz-Institut für Astrophysik Potsdam), Peter M. Weilbacher (Leibniz-Institut für Astrophysik Potsdam), Mohammad Akhlaghi (CRAL - CNRS, Université Claude Bernard Lyon 1, ENS de Lyon, Université de Lyon), Nicolas Bouché (Université de Toulouse), Thierry Contini (Université de Toulouse), Bruno Guiderdoni (CRAL - CNRS, Université Claude Bernard Lyon 1, ENS de Lyon, L’Université de Lyon), Edmund C. Herenz (Stockholms universitet), Hanae Inami (L’Université de Lyon), Josephine Kerutt (Leibniz-Institut für Astrophysik Potsdam), Floriane Leclercq (CRAL - CNRS, Université Claude Bernard Lyon 1, ENS de Lyon,L’Université de Lyon), Raffaella A. Marino (ETH Zürich), Michael Maseda (Universiteit Leiden), Ana Monreal-Ibero (Instituto Astrofísica de Canarias; Universidad de La Laguna), Themiya Nanayakkara (Universiteit Leiden), Johan Richard (CRAL - CNRS, Université Claude Bernard Lyon 1, ENS de Lyon,L’Université de Lyon), Rikke Saust (Leibniz-Institut für Astrophysik Potsdam), Matthias Steinmetz (Leibniz-Institut für Astrophysik Potsdam), e Martin Wendt (Universität Potsdam).
- O Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) é a maior unidade de investigação na área das Ciências do Espaço em Portugal, integrando investigadores da Universidade do Porto e da Universidade de Lisboa, e englobando a maioria da produção científica nacional na área. Foi avaliado como “Excelente” na última avaliação que a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) encomendou à European Science Foundation (ESF). A atividade do IA é financiada por fundos nacionais e internacionais, incluindo pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (UID/FIS/04434/2013), POPH/FSE e FEDER através do COMPETE 2020.
- A radiação de Lyman-alfa é produzida quando eletrões no átomo de hidrogénio decaem do segundo nível para o primeiro nível de energia. A quantidade de energia perdida é libertada sob a forma de radiação com um comprimento de onda específico, na banda do ultravioleta. Devido ao desvio para o vermelho, resultante da velocidade de afastamento destas galáxias distantes, a radiação de Lyman-alfa das galáxias observadas pelo MUSE é observada na banda do visível ou do infravermelho próximo.
- Em Unidades de campo integral para espectroscopia 3D (Integral Field Unit spectroscopy – IFS), o sinal de cada pixel do detetor é enviado para um espectrógrafo, que gera um espectro, o que permite o registo simultâneo de milhares de espectros por galáxia, produzindo assim uma visão tridimensional das estrelas e gás ionizado de cada galáxia.
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