ESPRESSO transforma VLT no maior telescópio ótico da atualidade
2018 fevereiro 13Imagem artística do espetrógrafo ESPRESSO a receber a luz dos quatro telescópios de 8,2 metros do VLT. Crédito: ESO/L. CalçadaImagem obtida durante a primeira luz do ESPRESSO. Crédito: ESO/D. Mégevand Mais de 20 anos depois de entrar em funcionamento, um dos principais objetivos do Very Large Telescope (
VLT), do Observatório Europeu do Sul (
ESO) foi finalmente concretizado, graças ao espectrógrafo
ESPRESSO: juntar os quatro telescópios de 8,2 metros num foco de luz incoerente
1, e fazê-los funcionar como um único telescópio gigante com um poder coletor
2 equivalente ao de um telescópio de 16 metros de diâmetro.
Isto só se tornou possível graças ao “
Coudé Train”, uma componente do ESPRESSO construída pela equipa portuguesa deste instrumento e liderada pelo Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (
IA3). A equipa portuguesa desenvolveu cada um dos 4 "Coudé Train", conjuntos de 9 elementos óticos de qualidade excecional, que levam a luz desde os telescópios até ao espectrógrafo, com o mínimo de aberração ou perdas, ao longo de trajetos com cerca 60 metros.
Para
Nuno Cardoso Santos (IA e
Faculdade de Ciências da Universidade do Porto), um dos investigadores principais do instrumento: “A equipa científica do ESPRESSO está agora a preparar afincadamente as observações, que devem começar em Outubro deste ano. É uma nova fase do projeto. Estamos todos curiosos para poder começar a ver as novas descobertas que o ESPRESSO vai permitir”.
O ESPRESSO tem por objetivo procurar e detetar planetas parecidos com a Terra, capazes de suportar vida, assim como testar a estabilidade das constantes fundamentais do Universo. Para tal, irá medir velocidades radiais
4, sendo capaz de detetar variações nestas velocidades de cerca de 0,3 km/h, ou seja, a velocidade de uma tartaruga a andar. Isto para estrelas que estão a dezenas ou centenas de anos-luz da Terra.
O ESPRESSO vai revolucionar a astronomia feita com espectrógrafos de alta resolução. Usa novos conceitos, como a calibração de comprimentos de onda com um pente de frequências laser, fornecendo uma precisão sem precedentes, e agora a capacidade de juntar o poder coletor dos quatro telescópios do VLT. Neste aspeto, é um enorme passo em direção ao Extremely Large Telescope (
ELT), o telescópio de 39 metros do ESO, que deverá entrar em funcionamento em 2024. A equipa do IA está já envolvida neste próximo passo, capitalizando a experiência adquirida com o ESPRESSO em
projetos de espectrógrafos para o ELT.
Segundo
Alexandre Cabral (IA e
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa), “Este momento é uma façanha para a instrumentação em astronomia a nível mundial, e é claramente um marco para a história da instrumentação para astronomia em Portugal.”
O Consórcio responsável pelo desenvolvimento e construção do ESPRESSO é constituído por instituições académicas e científicas de Portugal, Itália, Suíça e Espanha, bem como membros do Observatório Europeu do Sul. Os parceiros portugueses são o IA (
Universidade do Porto e
Universidade de Lisboa) e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. A participação nacional no ESPRESSO foi financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (
FCT).
NOTAS
1. A palavra “
incoerente” significa que a luz dos 4 telescópios é simplesmente adicionada, sem ter em conta qualquer informação sobre a fase da luz, ao contrário do que acontece com o VLT interferometer.
2. O
Poder Coletor de um telescópio mede a quantidade de luz que o telescópio consegue captar. Quanto maior o espelho do telescópio, maior a quantidade de luz que consegue captar, e assim, maior a sua capacidade de ver objetos cada vez mais ténues.
3. O Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) é a instituição de referência na área em Portugal, integrando investigadores da Universidade do Porto e da Universidade de Lisboa, e englobando a maioria da produção científica nacional na área. Foi avaliado como “Excelente” na última
avaliação que a Fundação para a Ciência e Tecnologia (
FCT) encomendou à European Science Foundation (
ESF). A atividade do IA é financiada por fundos nacionais e internacionais, incluindo pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (UID/FIS/04434/2013),
POPH/FSE e FEDER através do
COMPETE 2020.
4. O
Método das Velocidades Radiais deteta exoplanetas medindo pequenas variações na velocidade (radial) da estrela, devidas ao movimento que a órbita desses planetas imprime na estrela. A título de exemplo, a variação de velocidade que o movimento da Terra imprime no Sol é de apenas 10 cm/s (cerca de 0,36 km/h). Com este método é possível determinar o valor mínimo da massa do planeta. No entanto, em conjunto com o método dos trânsitos, é possível determinar a massa real.
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