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Descoberta de remanescente de Nova confirma observação com 2000 anos
2019 maio 03

Sobreposição de dados do MUSE numa imagem do enxame M22. (Crédito: ESA/Hubble e NASA, F. Göttgens)Digitalização do texto chinês, com a caixa laranja a assinalar a passagem que descreve a Nova.O Multi Unit Spectroscopic Explorer (ou explorador espectroscópico multi-unidade - MUSE) é um espectrógrafo 3D com um amplo campo de visão, que permite obter simultaneamente vários espectros, de regiões do céu adjacentes. (Crédito: ESO)
Uma equipa europeia1, que incluiu Jarle Brinchmann, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA2), descobriu um remanescente de Nova, que ocorreu há cerca de 2000 anos no enxame globular de estrelas M22, situado a 9 785 anos-luz na direção da constelação do Sagitário. Esta descoberta foi aceite para publicação3 na revista Astronomy & Astrophysics.

Segundo Jarle Brinchmann (IA e Universidade do Porto): “Quando comparados com a duração de uma vida humana, a maioria dos eventos astronómicos têm durações demasiado longas. Por isso é excitante ter conseguido usar o inovador instrumento MUSE para encontrar os restos da explosão de uma estrela, da qual há registos históricos.

Uma Nova é uma explosão de hidrogénio na superfície de uma estrela, que faz aumentar o seu brilho. O gás remanescente forma uma nebulosa brilhante, que neste caso foi observado pelo instrumento MUSE, instalado no VLT (ESO), perto do centro do enxame globular M22. A localização desta Nova coincide com registos de observações efetuadas por astrónomos chineses no ano 48 a.C.

Segundo Fabian Göttgens (Instituto de Astrofísica da U. Göttingen), o primeiro autor do artigo: “Eles provavelmente viram a Nova original, exatamente no mesmo sítio. Isto quer dizer que os nossos instrumentos confirmaram uma das mais antigas observações de um evento que ocorreu fora do nosso Sistema Solar”. Brinchmann, que até recentemente foi professor na Universidade de Leiden, nos Países Baixos, acrescenta ainda: “Esta observação permitiu-nos trazer escalas de tempo astronómicas para uma escala humana.

Os enxames globulares são gigantescos aglomerados esféricos de centenas de milhares de estrelas, geralmente velhas, que orbitam fora do plano galáxia. Na Via Láctea há cerca de 150 enxames globulares a orbitá-la, sendo o M22 um deles.

Este enxame foi observado pelo MUSE em conjunto com mais duas dúzias de outros enxames globulares. Este instrumento é um espectrógrafo que usa unidades de campo integral para espectroscopia 3D4, para obter o espectro total de cada pixel do céu. Isto permite ao MUSE medir o brilho das estrelas em função da sua cor, o que é particularmente útil para encontrar nebulosas, que frequentemente têm maior emissão numa única cor – tipicamente, no vermelho.

O remanescente de Nova descoberto no enxame M22 é uma nebulosa avermelhada de hidrogénio e outros gases, com um diâmetro de 8000 unidades astronómicas5. Mas apesar do tamanho, a nebulosa tem uma massa de apenas 30 vezes a da Terra.


Notas
  1. A equipa é composta por Fabian Göttgens, Stefan Dreizler, Benjamin Giesers, Tim-Oliver Husser, Wolfram Kollatschny (Institut für Astrophysik, Georg-August-Universität Göttingen); Peter M. Weilbacher, Martin M. Roth, Kasper B. Schmidt, Lutz Wisotzki (Leibniz-Institut für Astrophysik Potsdam - AIP); Sebastian Kamann (Astrophysics Research Institute, Liverpool John Moores University); Jarle Brinchmann (Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, Universidade do Porto & Universiteit Leiden); Ana Monreal-Ibero (Instituto de Astrofísica de Canarias – IAC & Universidad de La Laguna, Dpto. Astrofísica); Martin Wendt (Leibniz-Institut für Astrophysik Potsdam - AIP & Institut für Physik und Astronomie, Universität Potsdam) e Roland Bacon (Université Lyon1, Ens de Lyon, CNRS, Centre de Recherche Astrophysique de Lyon).
  2. O Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) é a maior unidade de investigação na área das Ciências do Espaço em Portugal, integrando investigadores da Universidade do Porto e da Universidade de Lisboa, e englobando a maioria da produção científica nacional na área. Foi avaliado como “Excelente” na última avaliação que a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) encomendou à European Science Foundation (ESF). A atividade do IA é financiada por fundos nacionais e internacionais, incluindo pela FCT/MCES (UID/FIS/04434/2019).
  3. O artigo “Discovery of an old nova remnant in the Galacticglobular cluster M22” foi aceite para publicação na revista Astronomy & Astrophysics (disponível aqui).
  4. Em Unidades de campo integral para espectroscopia 3D (Integral Field Unit spectroscopy – IFS), o sinal de cada pixel do detetor é enviado para um espectrógrafo, que gera um espectro, o que permite o registo simultâneo de milhares de espectros por galáxia, produzindo assim uma visão tridimensional das estrelas e gás ionizado de cada galáxia.
  5. Uma Unidade Astronómica é a distância média entre a Terra e o Sol e corresponde a aproximadamente 150 milhões de quilómetros (149 597 871 km).

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