Exoplaneta temperado descoberto à volta de estrela próxima do Sol
2017 novembro 15Imagem artística do exoplaneta Ross 128 b, com a sua estrela, uma anã vermelha pouco ativa no topo. Crédito: ESO/M. KornmesserZona do céu na constelação da Virgem, com a estrela Ross 128 indicada pelo circulo, ao centro. Esta estrela não é visível a olho nu. Crédito: Digitized Sky Survey 2. Agradecimento: Davide De Martin A apenas 11 anos-luz de distância, o exoplaneta Ross 128 b tem o tamanho da Terra e orbita uma estrela anã vermelha pouco ativa, sendo o segundo planeta temperado mais próximo de nós. Este exoplaneta foi detetado com o espectrógrafo
HARPS1 (
ESO) por uma equipa
2 que inclui o astrofísico do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (
IA3)
Nuno Cardoso Santos, e o resultado
4 foi publicado na revista
Astronomy & Astrophysic.
O astrofísico do IA e da
Faculdade de Ciências da Universidade do Porto comenta “Este resultado ilustra a capacidade já existente para encontrar e, no futuro, caracterizar em detalhe e de forma recorrente planetas que reúnam as condições necessárias para a presença de vida. A equipa do IA está a trabalhar arduamente para atingir esse objetivo, tendo traçado um plano que inclui uma forte participação em missões espaciais da ESA e em vários equipamentos do ESO, como o ELT ou o espectrógrafo
ESPRESSO5, que entrará em funcionamento ainda este mês.”
Muitas estrelas anãs vermelhas, incluindo Próxima Centauri (a estrela mais próxima do Sol), têm ocasionalmente fenómenos explosivos, que banham os planetas nas suas órbitas com doses letais de raios X e radiação ultravioleta. Pensa-se que estes fenómenos podem esterilizar potenciais formas de vida nesses planetas.
O Ross 128 b orbita a sua estrela uma vez a cada 10 dias, a uma distância cerca de 20 vezes mais próxima do que a que separa a órbita da Terra do nosso Sol. Mas por ser uma anã vermelha pouco ativa, com pouco mais de metade da temperatura do Sol, a radiação com que a estrela banha o planeta é apenas 1,38 vezes superior à irradiação que chega à Terra. Como resultado disto, as estimativas para a temperatura do planeta variam entre -60 ºC e 20 ºC, mas devido à incerteza nestes cálculos, ainda não é certo se o planeta está dentro, ou imediatamente fora, da zona de habitabilidade da sua estrela. É por isso um candidato perfeito para observação com o maior telescópio da próxima geração, o
ELT (ESO).
“Os novos instrumentos do ESO irão desempenhar um papel essencial na produção de um censo dos planetas com a massa da Terra passíveis de caracterização. Em particular o
NIRPS, o braço infravermelho do HARPS, irá aumentar a eficiência nas observações de anãs vermelhas, que emitem a maioria da sua radiação no infravermelho. E no futuro, o ELT irá dar-nos a possibilidade de observar e caracterizar uma percentagem significativa desses planetas”, conclui Xavier Bonfils (Universidade de Grenoble, França), o primeiro autor do artigo científico.
Apesar de atualmente estar a 11 anos-luz da Terra, o sistema Ross 128 está a aproximar-se de nós, e espera-se que se torne o nosso vizinho mais próximo dentro de apenas 71 000 anos. Nessa altura, o Ross 128 b irá destronar Próxima b e tornar-se o exoplaneta mais próximo da Terra.
NOTAS
- O HARPS (High Accuracy Radial velocity Planet Searcher, ou pesquisador de planetas de alta resolução por velocidades radiais) é um espectrógrafo de alta resolução, instalado no telescópio ESO de 3,6 metros do observatório de La Silla (Chile). Deteta variações de velocidade inferiores a 4 km/h (ou aproximadamente a velocidade de uma pessoa a caminhar).
- 2. A equipa é composta por: X. Bonfils (Univ. Grenoble Alpes, CNRS, IPAG), N. Astudillo-Defru, F. Bouchy, J.-M. Almenara, C. Lovis, M. Mayor, F. Pepe, D. Ségransan e S. Udry (Observatoire de Genève, Université de Genève), R. Díaz (CONICET – Universidad de Buenos Aires, Instituto de Astronomía y Física del Espacio (IAFE)), T. Forveille, X. Delfosse e A. Wü̈nsche (IPAG), F. Murgas (Instituto de Astrofísica de Canarias), N. C. Santos (Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e Universidade do Porto).
- O Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) é a maior unidade de investigação na área das Ciências do Espaço em Portugal, integrando investigadores da Universidade do Porto e da Universidade de Lisboa, e englobando a maioria da produção científica nacional na área. Foi avaliado como “Excelente" na última avaliação que a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) encomendou à European Science Foundation (ESF). A atividade do IA é financiada por fundos nacionais e internacionais, incluindo pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (UID/FIS/04434/2013), POPH/FSE e FEDER através do COMPETE 2020.
- 4. O artigo “A temperate exo-Earth around a quiet M dwarf at 3.4 parsecs” foi publicado na revista Astronomy & Astrophysics e está disponível online (DOI: 10.1051/0004-6361/201731973).
- O ESPRESSO (Echelle SPectrogaph for Rocky Exoplanet and Stable Spectroscopic Observations) será um espectrógrafo de alta resolução, a ser instalado no observatório VLT (ESO). Tem por objetivo procurar e detetar planetas parecidos com a Terra, capazes de suportar vida. Para tal, será capaz de detetar variações de velocidade de cerca de 0,3 km/h. Tem ainda por objetivo testar a estabilidade das constantes fundamentais do Universo. O Consórcio responsável pelo desenvolvimento e construção do ESPRESSO é constituído por instituições académicas e científicas de Portugal, Itália, Suíça e Espanha, bem como membros do Observatório Europeu do Sul. Os parceiros portugueses são o IA (Universidade do Porto e Universidade de Lisboa) e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
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